quinta-feira, 24 de janeiro de 2008

A chama

Refugiados, a seguir o novo blog do tio:




domingo, 13 de janeiro de 2008

Chegou

Esse blog comprova agora sua inevitável finitude, assume finalmente sua tendência fatalista e diz adeus.
"Adeus.".

Os arquivos ficam porque a memória é fraca. 2007 foi um ano longo e cheio de variedades e aqui está meu testemunho.

Astronauta da digitalidade, bon appetit.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Documento404904930949

Gana e aflição.
Desespero e convicção.
Uma estorinha de gente famosa.


Apenas metade de seu corpo permanecia dentro do oitavo andar do hotel nesse momento congelado.
Fluído, não demorou até atravessar as correntes de ar e ser sugado pela gravidade.
Voou à velocidade do berro descarrado e junto com ele explodiu na piscina.
Desaguou a cabeça e riu muito.
Cabelo molhado, bigode molhado, gozado esse Charly Garcia.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Terror II

Uma história verdadeira, ainda que inconveniente.
Uma fábula clara, mordaz e insatisfatória.
Um lamento.


A esposa engravida e ele vai à guerra ganhar algum dinheiro.
Explodido, perde os dois braços e as duas pernas.
Volta para casa, ganha próteses, assiste ao parto da mulher e recebe o bebê.
Com o filho em mãos, emociona-se além da conta e perde o controle das próteses, que sacrificam o pequeno diante da abismabidade de todos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Terror I

Uma história verdadeira.
Uma curta narrativa com uma bela fábula - a mim inacessível.
Enjoy it.

O cachorro do diabo.
Uma besta raivosa acorrentada no galpão.
Possuía um ódio interno tão magnífico que, no dia em que abriram a janela para olhá-lo, foi tomado por uma fúria inadjetivável e jogou-se contra os intrusos com a bocarra aberta preparada para lhes tirar um bom pedaço de cara na mordida.
Atravessou o vão da janela; os rapazes caíram no chão apavorados.
Além da fronteira do galpão viu a liberdade no vôo audacioso.
Acorrentado, porém, pela coleira, foi puxado para baixo quando em seu limite e, preso na garganta junto ao beiral da janela, teve uma morte lenta, agonizante e dolorosa assistida por dois bunda-moles.

Vou morrer

Aqui, assim, caminhando.
Distante do centro da praça vejo uma perseguição. Estive pensando nela o dia todo e eis que agora ela faz-se concreta. Deus.
Sobre o círculo que envolve o chafariz. Um magrelo amorenado pelo sol e seus pés no chão. Corria do baixinho piedoso que, quando alcançou-o e pôde enfim chutá-lo, preferiu não fazê-lo. É natal, é natal.
O perseguido corre e foge.O baixinho, astro dessa tarde quente, grita, pergunta onde está a polícia. “Eu tive que reagir! Cadê a polícia?”. A alguns metros, numa área verde da praça, vemos todos, eu e mais algumas mulheres e velhos sentados nos bancos, um acampamento do exército e, logo em frente, estirados sob a sombra, três militares, espremendo uns os cravos nas costas dos outros.
- Olha ali, os caras do exército, digo, mas o baixinho ensandecido nem ouve, grita para a outra esquina, para dois guardas municipais que numa lentidão excessiva caminham em direção ao tumulto.
- Eu tive que reagir!, ninguém ajuda!, eu tive que reagir!, continua o baixinho.
Um dos guardas manda-lhe calar a boca enquanto caminha em sua direção. Ele baixa a bola, aproxima-se dos guardas e explica para onde o sujeito fugiu. “Tem que pegar e bater, bater!”, grunhe o até então há doze minutos atrás pacífico cidadão.
Do ladrão não se tem mais notícia. Os guardas e o assaltado caminham a lentos passos, discutindo a violência na sociedade moderna.
Eu sigo, derrotado como nunca antes.
Atravesso a rua e encontro um flanelinha de idade avançada. Ele toma a iniciativa. Com um marcador de páginas de natal em mãos, pede-me para ler para ele o que está escrito. Encho os pulmões de vontade e com solenidade recito o otimista dito. Termino com um tapinha em seu ombro. Ele não perde tempo. “Eu não sou daqui, sou de Rio Grande, não comi nada o dia inteiro, tu não tem vinte e cinco centavos pra me dar?”. Tenho e dou, junto a um “feliz natal”. Viro-me e já saio tendo somente o chão – a lona – em mente. Ele fala algo. Olho. Ele caminha balançando o corpo pesadamente. Ele fala comigo. “Feliz natal.”. Me arrepio, engasgo na garganta, volto ao chão, mas ele fala de novo. “A gente se acostuma à derrota”. Nos encaramos por um bom tempo. Ao fim, silenciosamente despeço-me e retorno ao meu caminho. Dou alguns passos quando ouço novamente sua voz. Viro-me uma última vez, mas aí ele já não fala comigo; pede a um engravatado que leia o marcador de páginas de natal e caia no seu golpe.
Deus.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Uma Verdade

Hipopótamos são imbatíveis nos açudes.

A Morte do Narrador

Um infarto inesperado. Alcanço o teclado e tento mas não consego escrver nenmmm daskdjakjddkkkkkkkkkkk

sábado, 8 de dezembro de 2007

Sempre penso no ******** ** **** como alguém que não gostaria de não ser cumprimentado¹


Dessa vez foi ontem, quando saía para almoçar e encontrei-o na sala da pensão. Tento um “opa” mas ele corta ainda antes da primeira consoante.

- Porque me cumprimenta aqui e não na frente dos teus amigos, hãen? Eu te vi e sei que tu me viu.


¹ e que não encararia como honra a citação num mal-habitado blog.

Não gosto de citar

Mas, vá lá, Vinícius de Moraes, O DIA DA CRIAÇÃO, um trecho, porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado

Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado

Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado

Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado

Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado

Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado

Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado

Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado

Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado

Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado

Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado

Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado

Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado

Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado

Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado

Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado

Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado

Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado

Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado

Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado

Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado

Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado

Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado

Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado

Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado

Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado

Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado

Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado

Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado

De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado

Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado

Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado

E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado

Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado

Tande debuta como repórter

(...)
E então, qual o esporte que você pratica?
Hmm, aikidô.
Aikidô? hehehe Aikidô... hihihi Aikidô... huhuhu Aikidô...


FIM.


clap clap clap
clap clap clap

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A indústria gibitográfica

Resumida num diálogo.


(...)
Não, a Caçadora não é filha do Batman com a Mulher-Gato.
É sim, no SEGUNDO MUNDO é.


FIM.


clap clap clap
clap clap clap

Documento 5

Ramiro foi até o supermercado mais distante que conhecia para comprar suas lixas de unha. Procurando achar encontrou uma banca de amostras grátis. Abaixada, pegando copinhos, uma mulher. Ramiro esperou-a levantar-se, e quando aquela mulher levantou-se, rareou o ar de Ramiro: era sua mãe!

Quando ela fala “chapada...”...

...o Jô se recosta na poltrona e preocupado olha de lado. Não demora, porém, ela completa e conforta-o “...dos Guimarães, uma experiência única...”

Sua participação na televisão

Uma caminhada de um lado ao outro do cenário. Pega bandeja com os pratos e um resto de um pedaço de pastel. Pede licença à madame e atravessa a sala em direção à porta. Quando chega, pára. Olha-nos, olha-a e come o pastel. “Hihi”, regurgita. E se despede.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Documento 390

Tomaso viveu casto até os vinte anos quando, numa milagrosa quase-simultaneidade, viu cair a seus pés duas das mais apetitosas garotinhas que ainda na tenra idade afloravam pela primeira vez para a vida e para os homens.
Com as duas Tomaso viveu até a morte.
Mas antes disso, muito mais cedo, certo dia, ao final de uma sexta-feira quente, na passada na padaria antes da ida para casa, ao encontrar um amigo, Tomaso confidenciou:
“A Mariana era tão bonitinha, pena que depois foi ficando com uma cara de homem... E a Raquel era tão lindinha, pena que depois de um tempo foi ficando com cara de cavalo...”.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um certo documento 14,5

Não, cara, não, eu não quero restringir tua liberdade nem nada, só to falando, só quero conversar contigo sobre isso.
Não, não, já to respondendo, não, não.
Páára com isso, menina, me ouve, pensa, só pensa nisso.
Não quero pensar, já sei o que eu quero e não vou fazer nada que não seja isso.
Tá, tá, mas deixa de ser tão radical, pelo amor de deus, pensa nisso um pouco, é o nosso futuro, o teu futuro, a tua vida, e o meu futuro e a minha vida.
Não Fabrício, eu já disse que não! Eu só vou fazer o que eu quero, e o que eu quero é fazer odonto!
Pára Luana, pensa... Cara, tu sabe que eu já não tenho muitos clientes, e daí, quando tu se formar, a gente vai ter que dividir essa miséria? Pensa, Luana, pensa, não dá, faz outra coisa, pelo amor de deus. Tu pode até ganhar menos, mas daí eu te ajudo, pelo amor de deus, sou teu irmão, nunca vou te deixar na mão.
Eu não quero precisar não ser deixada na mão! Eu vou fazer odonto e vou ser uma dentista melhor que tu, pau no cu!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Para fazer ter valido a pena

Sozinho e em silêncio, bebo até sentir o toque no braço.
O susto me faz virar rápido em direção à mão.
- Assustado?, diz ela.
- Haha, não, não... Sim, sim, na verdade levo sustos o tempo todo, sou um pouco... distraído, não sei---
Ela interrompe:
- Humm, tem fogo?
- Não tenho, não tenho, não fumo...
- Humm, pois deveria... Ter fogo...
Ela me olha e em seus olhos vejo-o: o fogo.
Com seu próprio isqueiro ela acende o cigarro preso entre os lábios.
A tensão me faz amassar o copo. Tento arrumá-lo e ele faz um barulho estranho, engraçado, infantil, PLOP.
Ela ri e eu rio, tamborilando na borda de plástico um ritmo frenético. Ela dá uma longa tragada e joga a fumaça aos céus.
- O filme já vai começar, tu vai ficar aqui?
- Ahmm, não, não, um pouco mais só, eu acho...
Seu olhar é uma armadilha, mas é na boca onde ela guarda sua arma mais poderosa. Vislumbro um sorriso engatilhado. Seus olhos fecham-se delicadamente e, manhosa, ela vira o pescoço e deixa quase que somente o perfil à mostra. Me tem em mãos, e se não acabou com minha vida foi porque preferiu me dar as costas. Espero terminar a dose e volto ao bar.
Peço mais uma dose. Chegou o gelo, diz o rapaz.

sexta-feira, 30 de novembro de 2007

Documento 77

Saído, enfim, do reformatório.
Posto em liberdade, afinal.
Com a mochila às costas, caminha confiante até a primeira esquina.
Ali, após olhar para um e outro lado, fica indeciso.
Não sabe que lado tomar. Tem certeza que a tragédia se confirmará perante qualquer escolha - embora, em caráter de definitivo, saibamos, ainda que sorrateiramente, que o que move-o rumo à indefinível situação é o gozo que lhe assombra diante da dúvida e da definição.
Passou muito tempo rodeado de certezas; agora, encantava-se pela mínima decisão.
Ficou na esquina por horas.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Um documento 17

A jovem punk Wanda Maximoff ataca seu irmão Pietro e a Irmandade de Mutantes no apartamento em que vivem os rapazes desde que decidiram praticar atentados revolucionários em nome da causa mutante, conceito que não conseguem articular.
Perdrator, capaz de provocar abalos sísmicos, - nome verdadeiro: john yoshida -, invoca um terremoto contra a adversária. A fissura no chão engole a todos e ao próprio prédio, e seus tijolos e rebocos, sugados, ingeridos e digeridos pela lava, no cretino âmago de magma.

domingo, 18 de novembro de 2007

Documento 8

Mas e daí que dia desses fui visitar meu vô, meu querido vô Veron, e minha mãe me avisou, antes da visita, que ele estava velhinho, fraquinho e com a cuca meio fundidinha. Disse também que ele, sempre homem muito ativo, andava triste pela velhice. Disse ainda, também, finalmente, que ele ficaria muito feliz em me ver.

Sentei ao lado dele, que estava deitado.
Na televisão, um programa de jogos com palitinhos e prêmios em dinheiro.
Botei uma pilha e ele me deixou ligar.
Um jogo de perguntas e respostas. 6 acertos dão acesso ao jogo de palitinhos. A quinta pergunta é sobre o princípio da incerteza de Heisenber, a seguinte, desconhecida.
A primeira foi sobre a final da copa de 98.
Não ouvi um não que abria a frase e acabei respondendo ao contrário.
Caí na primeira fase.
Conto pro vô, ele não entende, entende outracoisa, acha graça, ri, eu rio.

Ele diz que sabia essa, sabia quem ganhou e sabia até o resultado. Sabia quem tinha marcado os gols e qual tinha sido o público. Sabia da bola na trave e das jogadas violentas. Sabia da torcida e do estádio, e de suas cadeiras de plástico, verdes, e da cerveja francesa, e da música da torcida, e das italianas, e, ah¹, lembrava da bahiana, com quem acabara uma noite dançando tango sob o arco do triunfo. Sabia e fazia questão de saber, de guardar para seus momentos finais suas grandes aventuras. Passava os dias absorto, navegando, buscando e trazendo as mais audazes e ardilosas lembranças, para que se despeçam agora que, exausto, meu vô preparava-se para descansar. Pode perguntar pra tua vó, ele disse, pergunta, ela vai te dizer, se num dia vem visita, no outro já nem lembro que esteve aqui. Pra quê que vou ocupar minha cabeça com isso? Abro mão do mundo de hoje e, em troca, consigo até sentir exalar o perfume do mediterrâneo nos portos de Alexandria.

Hmmm, massa, vô.
É, massa.
E amanhã então o senhor nem vai lembrar de mim?
Hmm, acho que não, talvez não. Quase certo.
Hmm, beleza. Viu vô, voindo então, vou tomar uma cachacinha com os rapazes.
Falou, jovem
PÓDESCRER, COROUA.

Clima de Stock Car

Hoje, penúltima etapa do campeonato, o filho do Galvão, Cacá, é o líder da temporada, como já o foi em outros anos em semelhantes circunstâncias que acabaram não resultando no troféu de grande campeão. Cacá já tem alguns anos de experiência sobre os outros pilotos. Começou perdendo para Xande Negrão e a velha geração e hoje perde para o garoto revelação. Esse ano, novamente chega à penúltima corrida podendo vencer o campeonato. Basta garantir o primeiro lugar - o que não imagina-se excepcional para o líder do campeonato. Porém, largará com uma grande desvantagem; envolvido num acidente, sai da décima sexta faixa de colocação.
Mas, bem, vamos à corrida.

Largou!

Não largou, bandeira amarela, não valeu.

Agora largou.

Ricardo, Duda, Fontes, Pizzonia são os quatro primeiros.

Cacá Buenao (vai assim mesmo, Buenao) atrás de Ingo Hoffman, outro lendário corouinha. Tá em 11°.

Fácil, fácil de bobear e achar que os carros são de brinquedo.

"Cacá Bueno já é noono a essa altura!" E diz que já assim é campeão.

A equipe de tv botou duas câmeras em carros.
Uma na traseira de Robsón Crusoé, que já na primeira curva, após batida e deslocamento de eixo, saiu da corrida, e outra no carro de tiago camilo, que vinha até esse momento merdeando em décimo-quarto e só abandonou esse comportamento apenas para entrar num companheiro quando este freou para fazer a curva. Tiago Camilo era o segundo colocado no campeonato. Tudo parece levar à grande vitória de Cacá, afinal.

Alex Dias, "o Boiadeiro", atacante do Vasco, aparece pra dar um alôu.
"E aí, Alex Dias, veio fazer uma forcinha pro Cacá?"
"Isso aí, vim aí, fazer uma forcinha pro Cacá. Heh."
"O Cacá que é tricolor roxo, Cléber!"

Hmmm, Cacá Buenao faz sinal para a câmera: quebrou alguma coisa.
"Pode ter sido a bomba da direção hidráulica", diz Reginaldo Leme.
"Foi a bomba da direção hidráulica", confirma o repórter.
"Nossa, Reginaldo, isso, do alto dos seus muitos anos aí de trabalho viu já só no olhar..."
"É, é, obrigado Cléber. Mas o bom disso é que dá pra terminar a corida assim. Não tem o conforto de antes, mas dá pra levar. Vai doer um pouco o braço, mas dá pra levar".
Pelo rádio, Cacá: "Ai gente, não dá pra levar.".
Nah, mentira.

Cacá perde posições e retorna à décima-primeira. Já não é mais campeão.

Cacá, com a direção hidráulica quebrada, passa três numa acelerada só.
Conhece uns truques, o juvenil.

Acidente.
"O pneu ficou muito sujo".
Os dois que disputavam a curva acabaram perdendo-a.
Não sei quem são, brigavam pela terceira ou quarta posição.

Captam o rádio do Rodrigo Sperafico:
"Passa mais um, passa mais um, menino."

Duda Pamplona dá um chega pra lá em Ricardo Sperafico e assume a pole.

"Temos ainda seis voltas, muito calor, há o desgaste dos pneus, as ligas borradas, o motor engasgado, emocionate, Cléber, emocionante".

Um laranja vai pra cima de Cacá. Ele não quer entregar a posição e na curva ambos se tocam e derrapam. Na hora vejo Galvão com a mão no coração: "Essa briga não é essencial! Essa briga não é essencial!"


E tudo termina.

Vence Duda Pamplona pela primeira vez na vida e Cacá Bueno é o campeão brasileiro de stock car tendo este ano vencido em Santa Cruz, Curitiba e Buenos Aires (capital do Brazil).

Cacá desce do carro e começa a socar o ar. O repórter tenta garantir a exclusiva e leva uma porrada no braço. Cacá faz força, "yeah bicth!".
Tira o capacete e dá a entrevista. E revela nossos erros da reportagem - quanto aos fatos, que fique claro, não quanto à essência. Na verdade, Cacá é agora bicampeão, porém após três vices consecutivos. Taí, deu a volta por cima. Belo exemplo. Um abraço pra ele, outro pra você, tudo de bom para a família, feliz domingo, amingo.

quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Uma tarde quente no início do verão

Uma tarde quente no início do verão. Pegou o envelope para dépósitos e, olhando para o código de barras no verso, utilizou sua poderosa capacidade mental e decifrou os simbolismos gráficos abstratos monetários. Apóss, foi ao mercado, e, junto à coluna no final do corredor de sopas e ervilhas, olhou na luz verde do conferidor até ouvir o *bip* que tão logo soou se transformou em *corneta olímpica* e na mensagem VÁ AO DEPÓSITO. Foi, fui, foi. Foi, redondo rodando, e quando atravessou as cortinas e encontrou-se dentro do gigantesco depósito,

No primeiro dia em que passei por ali

No primeiro dia em que passei por ali, o cara menor sentado no banquinho já se levantava dizendo “qual é o problema, é tu que paga minhas contas?” bastante visivelmente agora nervoso. O outro camelô do calçadão dos doce, maior, com um cabelo comprido que fugia em mexas debaixo do boné vermelho, white man people, não disse nada. “Quer pagar umas minhas conta, cara? Porquê se pra tu ficar dizendo isso é porque tu quer pagar minhas contas!”. O silêncio; o outro tremia. “Muahahaha!”. Eu tive de seguir meu caminho, a corrente, o fluxo populacional, o povo, insistentemente me convencia àdiante.
No outro dia, imerso em incertezas, acabei, imagino-o conscientemente, sendo levado pelo acaso a passar novamente pelo calçadão dos doce (a hipótese mais aceitável, que logo pensa ser este o caminho que leva da casa até um ponto importante para a, digamos, sobrevivência, é falsa. Tomo um novo caminho a cada novo dia.). Quando dou-me conta disso tudo passo a procurar os personagens daquele insólito acontecimento do dia anterior e não demoro até encontrar uma grande cabeça vermelhamente embonezada. Está mais próximo do que havia imaginado. Com poucos passos já passo em frente a ele. Ele, que olhava para o outro lado, vira o pescoço. Nos olhamos. Meus olhos, seu olho roxo. Reconheço a ferida e disfarço. Sigo em frente. Ele grita: “Qualé que é, cara!, quer pagar minhas contas!?”. Tento abandonar o sonho, mas ele já segura meu ombro. Viro-me e vejo-o: muito maior, o olho roxo ainda mais escuro. “Hein, cara!, hein, cara!, quer pagar minhas contas?” Pega no colarinho e me levanta do chão.
Sigo meu caminho e saio andando, sob os desígnios da maré de gente não consigo terminar a stória.

segunda-feira, 12 de novembro de 2007

O Retorno de Ronaldo

Milan e Atalanta marcariam nesse domingo o retorno aos gramados do agora cabeludinho Ronaldo, o fenômenom. Marcariam. Nesse mesmo domingo, 11 de novembro, algumas horas antes do da partida, um torcedor da Lazio foi morto por policiais. Esse acontecimento revoltoso inspirou os torcedores do Atalanta - que vinha bem no campeonato, com possibilidades de bater o Milan - a cancelar a partida, em respeito ao morto. Jogaram bombas e rojões no gramado, estouraram fogos de artifício nas arquibancadas e derrubaram uma parede de vidro blindada. Como nenhum dos jogadores tinha um contrato que cobrisse a periculosidade de ser destruído, o juiz teve de mandar todos de volta aos vestiários, e dali para suas casas.
Quando a polícia chegou, os revoltosos já estavam saindo do estádio. Munidos de escudos, capacetes e cacetetes, lançaram-se furiosos contra os torcedores. Correram para o confronto e foram confrontados. Uma pauleira.
Ronaldo segue sem jogar.