domingo, 2 de dezembro de 2007

Para fazer ter valido a pena

Sozinho e em silêncio, bebo até sentir o toque no braço.
O susto me faz virar rápido em direção à mão.
- Assustado?, diz ela.
- Haha, não, não... Sim, sim, na verdade levo sustos o tempo todo, sou um pouco... distraído, não sei---
Ela interrompe:
- Humm, tem fogo?
- Não tenho, não tenho, não fumo...
- Humm, pois deveria... Ter fogo...
Ela me olha e em seus olhos vejo-o: o fogo.
Com seu próprio isqueiro ela acende o cigarro preso entre os lábios.
A tensão me faz amassar o copo. Tento arrumá-lo e ele faz um barulho estranho, engraçado, infantil, PLOP.
Ela ri e eu rio, tamborilando na borda de plástico um ritmo frenético. Ela dá uma longa tragada e joga a fumaça aos céus.
- O filme já vai começar, tu vai ficar aqui?
- Ahmm, não, não, um pouco mais só, eu acho...
Seu olhar é uma armadilha, mas é na boca onde ela guarda sua arma mais poderosa. Vislumbro um sorriso engatilhado. Seus olhos fecham-se delicadamente e, manhosa, ela vira o pescoço e deixa quase que somente o perfil à mostra. Me tem em mãos, e se não acabou com minha vida foi porque preferiu me dar as costas. Espero terminar a dose e volto ao bar.
Peço mais uma dose. Chegou o gelo, diz o rapaz.

4 comentários:

Anônimo disse...

interessante esse. gostei.
incrível como a escolha é sempre muito anterior a decisão: ela vem das vísceras, e, quando a gente dá por si, ela já ocorreu faz "horas"(instantes...enfim anos luz).

Bernardo disse...

radicalizando: como se não fosse uma escolha pessoal, mas, sim, uma engrenagem universal desde o início dos tempos programada para agir desse modo.
mas não deve fazer muito bem isso de jogar as fraquezas e irresponsabilidades no colo de DEUS.
eu adoro.

eleonora disse...

dEstraído.

Huhu.:D

Bernardo disse...

sim, sim, sou. uma de minhas qualidades.