terça-feira, 30 de outubro de 2007

Ele tentou, tentou e tentou

Quando mais não suportou, falou:

- Não adianta, sem um bom olhar não há fotografia.

segunda-feira, 29 de outubro de 2007

Como já bem disse Lobão

"Não imitem tanto o capitão nascimento, seus idiotas".

feirra

A feira do livro de pelotas acontece nos mesmos dias da feira do livro de porto alegre, numa pracinha do centro em volta de um chafariz. Os livros são todos para crianças, mesmo os adultos, religiosos ou não. Em frente, aquartelada, a biblioteca pública municipal nega o acesso; jaz em reforma.
Que foda.

sábado, 27 de outubro de 2007

cristine fernandes

Agora, na tv, sofre cristine fernandes, coroua atriz sentada de costas para as câmeras e a platéia, feia como um cão, dentes abertos, topete encoquecado, contraposta agora ali no programa, veja o infausto destino, à não menos coroua porém resplandecente rainha do axé bem pegado Elba Ramalho, uma das últimas beldades remanescentes do cinqüentenário passado, uma nobre lembrança de cotovelo arreganhamente enrugado.
Mas cristine fernandes. Tem a fala ilustrada por imagens de arquivo. Poupam-lhe os primeiros planos enquanto abundam e deliciam-se com detalhes de Elba e sua mão doce escorrendo através do prestigioso caminho entre os seios.
Mas cristine fernandes. Já disse " A que nunca assistiria: Programas burros de auditório. 'Porque aviltam a inteligência do povo'.", e agora se faz correr depressa para alcançar o abraço do Márcio Garcia antes que o encanto da musa bahiana fulmine e aniquile sua feminilidade em rede nacional.
Fracasso, fracasso, embora aparente felicidade.

quinta-feira, 25 de outubro de 2007

Até então o homem pôde apenas incentivar

Agora, ali, teve que fazer. Grande mordida, boa bocada, sim, rompera-se o cordão umbilical.

segunda-feira, 22 de outubro de 2007

A pergunta do Jô

Nas noites frias de convidados ressabiados, ele, desgostoso perdigoto, lança:
Você tem alguma mania?

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Não fui almoçar

Não fui almoçar. Estava enjoado das pessoas, das conversas e do caminho de sempre, das mesmas ruas e calçadas que tinha de percorrer para ficar sob a sombra. O sol queima o pescoço, nesse horário. Ferve o couro cabeludo e sua a testa. A fome ainda não encomoda. Acordei tarde, e decidi não sair de casa. Nem do quarto. Hoje estou cansado de rir e concordar. Vou ficar no meu quarto. Eles que encontrem outro conformado. Não to pra ninguém.

Uma nova amizade

Não costumo pensar direito quando alguém pega minha atenção inesperadamente. Demoro alguns minutos até compreender qual é o assunto da conversa, o objetivo do sujeito e a minha opinião. Assim, durante esse período inicial de conversa, meu leve retardamento responde sempre afirmativamente E SORRINDO. Foi assim que emprestei meu quarto na pensão para o Acácio e a namorada foderem furiosamente.
Eu ainda segurava a sacola de massa e sardinha numa mão enquanto com a outra tratava de deschavear a porta quando ele se aproximou com um ruidoso Ôôôôôô, Andrade!. Olhei por cima do ombro e vi a cara gorda crescer na mesma medida em que o arreganhamento dos dentes. Ô cara, olha só, já falei com o seu Zé e ele disse que não tem problema e eu queria ver contigo o que tu acha de me emprestar o quarto pra eu ficar com a minha namorada que vem de Jundiaí porque tu sabe né, não vou levar minha namorada pro meu quarto porque tem o Miguel e como tu tá num quarto sozinho imaginei que tu poderia deixar eu ficar com ela, uma semaninha só, eu ia colocar ela num quarto de hotel, mas é muito caro, tu sabe, ia torrar uma grana preta, disse ele, terminando num três pontinhos. Antes de reponder abri um sorriso de boca fechada e então “claro claro, sem problemas”. Ele deu um longo suspiro, estava aliviado. Bateu no meu ombro agradecendo e até deu uma piscada sacana “ela vem terça, com aliança e tudo. Vou terminar com ela na quinta”. Mas tu é mal, hein, ô Acácio. Fiquei rindo e concordando com a cabeça e fechando a porta enquanto ele continuava falando. Desculpa, amigo, teu tempo acabou, se contente com o favor e não enche o saco. Já tranquilo, não consegui parar de pensar no que aconteceria a seguir: ele puxaria conversa a todo momento, me cumprimentaria de um jeito intenso e maneiro, daria risada de qualquer comentário que eu fizesse, discursaria sempre antecedido por um “Hein, Andrade, olha essa...”, enfim, trataria de me convencer de que era um sujeito legal que merecia receber o nobre gesto de uma amizade inexistente. Quanta xaropeação. Mandei ele tomar no cú e até mesmo dei umas pancadas naquela cabeça grande e redonda - imaginação, mas já deu um alívio.
O Miguel era meio maluco. Ficava o dia todo fora, chegava no meio do jornal nacional e sempre reclamava do cheiro quando passava pela sala. Era um baita brutamontes com uma tatuagem estranha no ombro do tamanho dum prato. Entrava na casa e ia direto pra cozinha. Fritava uns dois, três bifes, fazia um arroz e um molho com uns temperos que tirava do bolso, misturava tudo numa gamela e devorava ruidosamente com um grande colher.
Vai, Acácio, tu fica me devendo uma.

Grande Cacau

Mmmm, mas quê cheiro de chocolate...
Ahm...
Sou TARADA por chocolate.
Ueba.

Ôsse

Me dá um colírio Teuto.
Teuto?
É, esses alemãos sabem o que fazem.

Ele fez o que eu não fiz

E agora estamos aqui, os dois fodidos...

Como lidar com aquele colega que fala demais

Fale alto demais.

Dislexia

Comia, sentado num banco de praça rodeado de areia algumas pernas afastado da calçada.
Fico muito ansioso.
Não consigo descrever e escrever parte por parte.
Vou adiante.
Que merda.

Pisante

As pessoas olhavam meu tênis rasgado. Estava rasgado nos dois lados nos dois pés. Era confortável como nenhum outro tênis que já tive o fôra – e a causa disso não são os rasgos, mas sim os anos de pacífica e prazerosa convivência que nos uniam intimamente. Só lhe dava descanso nos dias de chuva e nas noites de festa.
As pessoas que olhavam o tênis não sabiam e nem pensavam nisso. Olhavam o tênis e julgavam meu caráter financeiro. Eu não estava nem aí para o meu caráter financeiro. Estava preocupado demais para pensar nisso. Estava confuso e não sabia o que fazer. A decisão aguardava o sol se pôr. O orelhão estava ali, à minha frente, a me lembrar em volta do quê meus pensamentos deveriam rodear. Mas não funcionava. Eu apenas olhava para a rua em frente e para os carros e para as pessoas que passavam e não via ninguém. As formigas no chão marchavam em direção ao prédio abandonado dos correios, voltando de mais um dia de trabalho. Pensei que poderiam escalar meus tênis, entrar por baixo da minha calça e me devorar, mas não, as formigas não gostam de tênis rasgado.

Então

As pessoas me acham quietão. Nunca ninguém me disse isso, mas eu sei mesmo assim. Sei porque me comporto como se comportaria um cara quietão. Não falo muito com nenhum deles, só o essencial: saudação de chegada e saída e eventual risadinha após algum jocoso comentário. Acham que eu sou quietão. Não sou, mas não faço questão nenhuma de dizer isso a eles.

Pornochanchada é de madrugada

Ah, diz aí.
Não digo.
Ah diz aí.
Não digo.
Ah diz aí que eu sou o dono do seu cabacinho.

É, os rapazes ficam mexendo com você, tirando uma onda, mas isso é normal, é do espírito do carioca.

Olha,meu irmão, me deu vontade de fumar um cancereso, e aí.

Você não é mais o dono do meu cabacinho.

Wind

Ah, seu Zé, putaquepariu, ó o tamanho do buraco!
Pára ô rapaz, tu não tem cobertor?
Tenho, mas e daí?
Então se cobre, ora.
Ô, seu fodido, tu tá louco?

Um gosto estranho

Acordei com um gosto estranho na boca. É a água. Essa água podre da torneira. Já no meu primeiro dia aqui assisti no canal dos vereadores a uma discussão sobre a água. Um vereador dizia que a água estava contaminada com magnésio, mercúrio e outra podreira e que ninguém tomava providências, que o povo estava ficando banguela e careca e etc. Um outro refutou argumentando que todo mundo já sabia disso e que quem tomava água da torneira conhecia de antemão o risco que corria. Um terceiro vereador subiu à bancada reclamando que assessores seus haviam sido agredidos e o assunto água não foi mais retomado.

segunda-feira, 15 de outubro de 2007

Argentinos jogaram râguebi

Choraram abraçados ao final.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Deitado

Deitado, lê a última frase e fecha o livro.
Levanta, abre a porta e sai para o lado de fora.
Chove no meio do oceano.

sábado, 6 de outubro de 2007

Um fracasso

Um fracasso minha campanha para que as pessoas fossem mais ao cinema. Após ter saído no domingo noturno de uma sessão inebriante com a certeza de que aquele ambiente e seus acontecimentos e mecanismos próprios eram, sim, realmente, mágicos e altamente fecundos em relação às emoções e criatividades dos participantes desse verdadeiro ritual de transmutação, senti-me forte por ter finalmente encontrado um motivo, uma causa concreta e merecedora que justificasse e impulsionasse meus hábitos e minhas atitudes a partir de então.
Pois eis que dois dias após incluir nas mais díspares conversas comentários sobre a necessidade espiritual de se ir ao cinema – ainda mais quando em contato com estudantes da sétima arte -, cai a notícia: fechou o Cine Capitólio.
O Cine Capitólio é um dos dois cinemas de Pelotas. Possui duas salas, uma pequena e convencional na disposição da tela e das poltronas e uma outra, a sala um, enorme, uma tela gigantesca acima de todos os setecentos fiéis assentos posicionados um atrás do outro com uma suave elevação em direção aos frontais e aos finais. Um parêntesis deitado, assim lembro, estranho, exótico, MASSA, o Cine Capitólio. Fechou.
Sobrou o outro, chamado CineArt, três salas, alguma centena de lugares, posicionado num dos tantos shoppings-galeria do calçadão central pelotense. No quarto andar do dito estabelecimento comercial, chega-se até ele através de 3 escadas rolantes mumificadas responsáveis pela circulação de pessoas entre os andares. Detalhe que é uma única – e estreita – escada de ligação por piso, o que leva os rapazes a aguardar para subir quando alguma moça desce. Cavalheirismo old times na marra. Mas minto, ou omito (ominto), se não conto do elevador. Há, sim, um elevador, um metálico e alucinado elevador, dir-se-ia comprado de um parque de diversões. Dir-se-ia. Hoje passei lá, uma cerca amarela não permitia o acesso: há de ter salvo muitas vidas.
Mas aí já escondi outra escada, uma em espiral, essa larga, antiga, no fundo do shopping. Atravessa os andares e leva até o 2m por 2m pôster do Homem-Aranha 2 que lhe acompanha os últimos degraus. Findos, eis o CineArt. Caminhei até ali para tirar algumas fotos, mas, desculpem-me, não havia o quê ser fotografado. Rodeei pelo Hall de entrada, olhei alguns pôsteres e voltei à agora íngreme escadaria. No andar de baixo um segurança entrou no carrossel. Me vendo olhar o chão do primeiro andar pelo vão entre os contorcionismos arquitetônicos, disse: “Não pula que tu vai se machucar”. Ri e não deixei de aproveitar:
- Tu viu que fecharam o outro cinema?
Ele:
- Hein?
- Fecharam o outro cinema, o Capitólio.
- Ah, sim, sim, também, não dá dinheiro. Vai virar igreja. Nada dá mais dinheiro que a fé. – Segurei o “FÉ DOS BOBOS!” pra saborear a cereja – A fé remove montanhas, guri.
Vou até o Capitólio. Alguns homens conversam em frente, escorados num carro. Eu do outro lado da rua tiro algumas fotos. Ao meu lado, um sujeito imita com o celular. Penso em dizer alguma coisa, um “bah” grave e pesaroso, mas não sai nada. O ar carregado de vislumbres do quê o falecido Cine Capitólio poderia muito em breve se tornar encarcerava qualquer palavra a respeito dentro da boca e do coração de qualquer um. Atravesso a rua, fotos e fotos, e ouço um pouco da conversa dos três sujeitos. Apenas um deles fala, o maior, mais novo e mais careca, a balaca num esquisito fone de um ouvido apenas: “Tem que fechar, não adianta, ali no outro bota duzentos e tá lotada a sala, aqui... Pssssss.”
É tudo. O poder dos idiotas.


Save yourself.


A reforma ficará DIVINA.


O presunto.

segunda-feira, 1 de outubro de 2007

Do tempo em que eu saía de casa

Do tempo em que eu saía de casa e caminhava por horas com a estranha sensação de já ter dito ou ouvido isso antes.
Uma loja toda vazia, em reformas. Em frente à fachada de vidro, percorrendo toda sua extensão pelo lado da calçada, uma fila de desempregados, mulheres em sua maioria, baixas, altas, magras, gordas, bundudas, peitudas, feias como o cão, e um homem, um único, negro, alto, cabelo engelado, não por isso menos pichaco, um dos primeiros. Uma pequena folha colada no vidro anuncia: quatro vagas, requisito mínimo de três meses de experiência. É.
Sigo e paro num macdonalds, uma casquinha por favor, mista mesmo. Esperando, um garoto me cutuca o braço chamando o tio. Pede um níquel, pergunto se ele é bom em matemática – já o conheço da saída do supermercado -, ele ri, abobado, o menino, todo lambuzado. Cinco mais cinco, quanto é? Vinte. Não, não... Dez! Iiiisso, toma moedinha.
Sento num banco e luto contra o vento que em vão tenta descongelar o sorvete e me banhar a bermuda. Passa uma conhecida, ela e a amiga, os óculos escuros, ambas. Parece caminhar em minha direção, quando se aproxima ergo as sobrancelhas, arriscando um cumprimento, ela passa pelo meu lado, os olhos sabe-se-lá onde. Sinto o pingo gelado, bobeei. Tento limpar com o guardanapo mas só o que faço é espalhar e alargar a mancha. Termino o sorvete, me espreguiço, levanto.
Passo novamente em frente à fila do desemprego, agora mais mulheres, apenas mulheres. Uma alheia pára ao ver a fila, caminha até o anúncio, lê-o e entra na indiana. Caras feias para a concorrência, uma negra e uma loira pintada, as duas empeneuzadas. Abro um sorriso, elas se fecham. Pit-stop pra vocês.
Dentro do mercado, uma vontade súbita de morrer. As sacolas pesadas parecem não se satisfazer com o chão, querem me levar direto ao inferno. Passa um amigo, não vi, não quero conversar. Uma ventania levanta areia até meus olhos, eu coço, eu coço, mas continuo sem enxergar nada.