quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Documento404904930949

Gana e aflição.
Desespero e convicção.
Uma estorinha de gente famosa.


Apenas metade de seu corpo permanecia dentro do oitavo andar do hotel nesse momento congelado.
Fluído, não demorou até atravessar as correntes de ar e ser sugado pela gravidade.
Voou à velocidade do berro descarrado e junto com ele explodiu na piscina.
Desaguou a cabeça e riu muito.
Cabelo molhado, bigode molhado, gozado esse Charly Garcia.

terça-feira, 18 de dezembro de 2007

Terror II

Uma história verdadeira, ainda que inconveniente.
Uma fábula clara, mordaz e insatisfatória.
Um lamento.


A esposa engravida e ele vai à guerra ganhar algum dinheiro.
Explodido, perde os dois braços e as duas pernas.
Volta para casa, ganha próteses, assiste ao parto da mulher e recebe o bebê.
Com o filho em mãos, emociona-se além da conta e perde o controle das próteses, que sacrificam o pequeno diante da abismabidade de todos.

segunda-feira, 17 de dezembro de 2007

Terror I

Uma história verdadeira.
Uma curta narrativa com uma bela fábula - a mim inacessível.
Enjoy it.

O cachorro do diabo.
Uma besta raivosa acorrentada no galpão.
Possuía um ódio interno tão magnífico que, no dia em que abriram a janela para olhá-lo, foi tomado por uma fúria inadjetivável e jogou-se contra os intrusos com a bocarra aberta preparada para lhes tirar um bom pedaço de cara na mordida.
Atravessou o vão da janela; os rapazes caíram no chão apavorados.
Além da fronteira do galpão viu a liberdade no vôo audacioso.
Acorrentado, porém, pela coleira, foi puxado para baixo quando em seu limite e, preso na garganta junto ao beiral da janela, teve uma morte lenta, agonizante e dolorosa assistida por dois bunda-moles.

Vou morrer

Aqui, assim, caminhando.
Distante do centro da praça vejo uma perseguição. Estive pensando nela o dia todo e eis que agora ela faz-se concreta. Deus.
Sobre o círculo que envolve o chafariz. Um magrelo amorenado pelo sol e seus pés no chão. Corria do baixinho piedoso que, quando alcançou-o e pôde enfim chutá-lo, preferiu não fazê-lo. É natal, é natal.
O perseguido corre e foge.O baixinho, astro dessa tarde quente, grita, pergunta onde está a polícia. “Eu tive que reagir! Cadê a polícia?”. A alguns metros, numa área verde da praça, vemos todos, eu e mais algumas mulheres e velhos sentados nos bancos, um acampamento do exército e, logo em frente, estirados sob a sombra, três militares, espremendo uns os cravos nas costas dos outros.
- Olha ali, os caras do exército, digo, mas o baixinho ensandecido nem ouve, grita para a outra esquina, para dois guardas municipais que numa lentidão excessiva caminham em direção ao tumulto.
- Eu tive que reagir!, ninguém ajuda!, eu tive que reagir!, continua o baixinho.
Um dos guardas manda-lhe calar a boca enquanto caminha em sua direção. Ele baixa a bola, aproxima-se dos guardas e explica para onde o sujeito fugiu. “Tem que pegar e bater, bater!”, grunhe o até então há doze minutos atrás pacífico cidadão.
Do ladrão não se tem mais notícia. Os guardas e o assaltado caminham a lentos passos, discutindo a violência na sociedade moderna.
Eu sigo, derrotado como nunca antes.
Atravesso a rua e encontro um flanelinha de idade avançada. Ele toma a iniciativa. Com um marcador de páginas de natal em mãos, pede-me para ler para ele o que está escrito. Encho os pulmões de vontade e com solenidade recito o otimista dito. Termino com um tapinha em seu ombro. Ele não perde tempo. “Eu não sou daqui, sou de Rio Grande, não comi nada o dia inteiro, tu não tem vinte e cinco centavos pra me dar?”. Tenho e dou, junto a um “feliz natal”. Viro-me e já saio tendo somente o chão – a lona – em mente. Ele fala algo. Olho. Ele caminha balançando o corpo pesadamente. Ele fala comigo. “Feliz natal.”. Me arrepio, engasgo na garganta, volto ao chão, mas ele fala de novo. “A gente se acostuma à derrota”. Nos encaramos por um bom tempo. Ao fim, silenciosamente despeço-me e retorno ao meu caminho. Dou alguns passos quando ouço novamente sua voz. Viro-me uma última vez, mas aí ele já não fala comigo; pede a um engravatado que leia o marcador de páginas de natal e caia no seu golpe.
Deus.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2007

Uma Verdade

Hipopótamos são imbatíveis nos açudes.

A Morte do Narrador

Um infarto inesperado. Alcanço o teclado e tento mas não consego escrver nenmmm daskdjakjddkkkkkkkkkkk

sábado, 8 de dezembro de 2007

Sempre penso no ******** ** **** como alguém que não gostaria de não ser cumprimentado¹


Dessa vez foi ontem, quando saía para almoçar e encontrei-o na sala da pensão. Tento um “opa” mas ele corta ainda antes da primeira consoante.

- Porque me cumprimenta aqui e não na frente dos teus amigos, hãen? Eu te vi e sei que tu me viu.


¹ e que não encararia como honra a citação num mal-habitado blog.

Não gosto de citar

Mas, vá lá, Vinícius de Moraes, O DIA DA CRIAÇÃO, um trecho, porque hoje é sábado.

II

Neste momento há um casamento
Porque hoje é sábado

Hoje há um divórcio e um violamento
Porque hoje é sábado

Há um rico que se mata
Porque hoje é sábado

Há um incesto e uma regata
Porque hoje é sábado

Há um espetáculo de gala
Porque hoje é sábado

Há uma mulher que apanha e cala
Porque hoje é sábado

Há um renovar-se de esperanças
Porque hoje é sábado

Há uma profunda discordância
Porque hoje é sábado

Há um sedutor que tomba morto
Porque hoje é sábado

Há um grande espírito-de-porco
Porque hoje é sábado

Há uma mulher que vira homem
Porque hoje é sábado

Há criançinhas que não comem
Porque hoje é sábado

Há um piquenique de políticos
Porque hoje é sábado

Há um grande acréscimo de sífilis
Porque hoje é sábado

Há um ariano e uma mulata
Porque hoje é sábado

Há uma tensão inusitada
Porque hoje é sábado

Há adolescências seminuas
Porque hoje é sábado

Há um vampiro pelas ruas
Porque hoje é sábado

Há um grande aumento no consumo
Porque hoje é sábado

Há um noivo louco de ciúmes
Porque hoje é sábado

Há um garden-party na cadeia
Porque hoje é sábado

Há uma impassível lua cheia
Porque hoje é sábado

Há damas de todas as classes
Porque hoje é sábado

Umas difíceis, outras fáceis
Porque hoje é sábado

Há um beber e um dar sem conta
Porque hoje é sábado

Há uma infeliz que vai de tonta
Porque hoje é sábado

Há um padre passeando à paisana
Porque hoje é sábado

Há um frenesi de dar banana
Porque hoje é sábado

Há a sensação angustiante
Porque hoje é sábado

De uma mulher dentro de um homem
Porque hoje é sábado

Há uma comemoração fantástica
Porque hoje é sábado

Da primeira cirurgia plástica
Porque hoje é sábado

E dando os trâmites por findos
Porque hoje é sábado

Há a perspectiva do domingo
Porque hoje é sábado

Tande debuta como repórter

(...)
E então, qual o esporte que você pratica?
Hmm, aikidô.
Aikidô? hehehe Aikidô... hihihi Aikidô... huhuhu Aikidô...


FIM.


clap clap clap
clap clap clap

sexta-feira, 7 de dezembro de 2007

A indústria gibitográfica

Resumida num diálogo.


(...)
Não, a Caçadora não é filha do Batman com a Mulher-Gato.
É sim, no SEGUNDO MUNDO é.


FIM.


clap clap clap
clap clap clap

Documento 5

Ramiro foi até o supermercado mais distante que conhecia para comprar suas lixas de unha. Procurando achar encontrou uma banca de amostras grátis. Abaixada, pegando copinhos, uma mulher. Ramiro esperou-a levantar-se, e quando aquela mulher levantou-se, rareou o ar de Ramiro: era sua mãe!

Quando ela fala “chapada...”...

...o Jô se recosta na poltrona e preocupado olha de lado. Não demora, porém, ela completa e conforta-o “...dos Guimarães, uma experiência única...”

Sua participação na televisão

Uma caminhada de um lado ao outro do cenário. Pega bandeja com os pratos e um resto de um pedaço de pastel. Pede licença à madame e atravessa a sala em direção à porta. Quando chega, pára. Olha-nos, olha-a e come o pastel. “Hihi”, regurgita. E se despede.

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Documento 390

Tomaso viveu casto até os vinte anos quando, numa milagrosa quase-simultaneidade, viu cair a seus pés duas das mais apetitosas garotinhas que ainda na tenra idade afloravam pela primeira vez para a vida e para os homens.
Com as duas Tomaso viveu até a morte.
Mas antes disso, muito mais cedo, certo dia, ao final de uma sexta-feira quente, na passada na padaria antes da ida para casa, ao encontrar um amigo, Tomaso confidenciou:
“A Mariana era tão bonitinha, pena que depois foi ficando com uma cara de homem... E a Raquel era tão lindinha, pena que depois de um tempo foi ficando com cara de cavalo...”.

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Um certo documento 14,5

Não, cara, não, eu não quero restringir tua liberdade nem nada, só to falando, só quero conversar contigo sobre isso.
Não, não, já to respondendo, não, não.
Páára com isso, menina, me ouve, pensa, só pensa nisso.
Não quero pensar, já sei o que eu quero e não vou fazer nada que não seja isso.
Tá, tá, mas deixa de ser tão radical, pelo amor de deus, pensa nisso um pouco, é o nosso futuro, o teu futuro, a tua vida, e o meu futuro e a minha vida.
Não Fabrício, eu já disse que não! Eu só vou fazer o que eu quero, e o que eu quero é fazer odonto!
Pára Luana, pensa... Cara, tu sabe que eu já não tenho muitos clientes, e daí, quando tu se formar, a gente vai ter que dividir essa miséria? Pensa, Luana, pensa, não dá, faz outra coisa, pelo amor de deus. Tu pode até ganhar menos, mas daí eu te ajudo, pelo amor de deus, sou teu irmão, nunca vou te deixar na mão.
Eu não quero precisar não ser deixada na mão! Eu vou fazer odonto e vou ser uma dentista melhor que tu, pau no cu!

domingo, 2 de dezembro de 2007

Para fazer ter valido a pena

Sozinho e em silêncio, bebo até sentir o toque no braço.
O susto me faz virar rápido em direção à mão.
- Assustado?, diz ela.
- Haha, não, não... Sim, sim, na verdade levo sustos o tempo todo, sou um pouco... distraído, não sei---
Ela interrompe:
- Humm, tem fogo?
- Não tenho, não tenho, não fumo...
- Humm, pois deveria... Ter fogo...
Ela me olha e em seus olhos vejo-o: o fogo.
Com seu próprio isqueiro ela acende o cigarro preso entre os lábios.
A tensão me faz amassar o copo. Tento arrumá-lo e ele faz um barulho estranho, engraçado, infantil, PLOP.
Ela ri e eu rio, tamborilando na borda de plástico um ritmo frenético. Ela dá uma longa tragada e joga a fumaça aos céus.
- O filme já vai começar, tu vai ficar aqui?
- Ahmm, não, não, um pouco mais só, eu acho...
Seu olhar é uma armadilha, mas é na boca onde ela guarda sua arma mais poderosa. Vislumbro um sorriso engatilhado. Seus olhos fecham-se delicadamente e, manhosa, ela vira o pescoço e deixa quase que somente o perfil à mostra. Me tem em mãos, e se não acabou com minha vida foi porque preferiu me dar as costas. Espero terminar a dose e volto ao bar.
Peço mais uma dose. Chegou o gelo, diz o rapaz.