quinta-feira, 23 de agosto de 2007

Isso tudo é balaca

Odeio balaca, disse Ramón a si mesmo, estilo mental, em resposta ao dedo exótico que agora já lhe roçava a bochecha e que dentro em breve lhe afundaria a pele macia até o contato íntimo com os molares. Seria aquele o momento exato para o início da bem-calculada reação. Inerte, via o movimento progressivo consumar-se. O buraco aumentava num ritmo cada vez mais acelerado e intenso, assim como o orgulho e satisfação do Porco Baloarte por essa demonstração de força e destemor perante tantos pessoas e tantas gatchinhas. O olho chegava a brilhar e a boca tremia nos cantos, nervosa. Não esperava nada de mim, o vagabundo, que dirá agora que me vê assim inofensivo, parado e visivelmente calmo com meio dedo gordo enfiado na cara. O dedo continuava trajetando, agora já sob a velocidade da despedida. Antevendo a proximidade do final, deixava para trás o êxtase em seu apogeu e assumia pouco a pouco o ar de enfado que a ausência da atividade física lhe impunha. A mente vazia ecoava frases de efeitos – concentrado, tinha dificuldades em captar uma num tal tão ambiente espaçoso e vazio, e era essa sua principal preocupação, já que no durante o espetáculo tudo ocorreu mais bem que o possível, o que devia alarmar-lhe. Eu olhava tudo numa câmara lenta do diabo: as bocas alheias, os olhos, os cabelos, o som, a luz, todo o ao redor pra sempre gravado num minúsculo movimento de cabeça. Ele continuava ali, cara gorda vermelha. O dedo na bochecha, quase lá. Abriu a boca – a baba que esticou-se de um lábio a outro não foi suficiente para mantê-lo de boca fechada, se bem que se nunca desgraçadamente o fora, não era de se esperar que agora o seria. Foi no exato momento em que a boca atingiu a máxima angulação que seu dedo tocou seu limite e foi por essa atitude amaldiçoado. PÁ! Ele não esperava aquilo. Aproveitei a tonteada e entortei o nariz do puto que, bendito seja, espirrou sangue enranharado pra tudo quanto foi lado (banhando umas meninas que estavam perto, me inundando de orgulho e satisfação). Tapou o nariz com uma mão, mas aí já tava dado o abraço. Chute no saco e cadeirada na nuca. Já eras, já eras.

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