Na volta, um farrapo me esperava sentado numa calçada. Cheirava algo num pano colado ao nariz. Tinha os olhos mais vesgos que alguém poderia ter, e eu não sabia se a droga era a causa ou a consequência daquilo. Passei por ele e ele levantou, me seguindo, babando palavras. Fechei os olhos. Ele babou mais um pouco. Me virei e dei um soco no meio dos olhos do desgraçado, que caiu deitado olhando pro céu.
Fui atravessar a rua mas um motoqueiro não quis deixar. Achou que por estar mais rápido tinha mais direitos e deu sinal de luz, me mandando recuar. Continuei atravessando. Ele buzinou e desviou de mim. A um palmo de distância, num caco de segundo, torceu o pescoço e me olhou nos olhos. O que viu não foi nada bom. Segurei o capacete pelo visor e enchi de bicos aquela cabeça encapacetada que pensou o melhor que podia: pegar a moto, correr pra casa.
Cortando caminho pela praça consegui finalmente entender o quê significava aquele cheiro que me seguia por onde quer que eu fosse. Cheiro do podre. Cheiro da selva cagada na qual tinham transformado todo o mundo. Era o odor da catinga que exalava de todos os sovacos suados que se esfregavam no caminhar e balançar de bolsas e sacolas. Cada sovaquinho com sua própria pestilência, tão característica quanto a sua personalidade dissolvida em rostos e barbas e cabelos e unhas do pé iguais na sua diferença.
Numa última esquina cachorros brigavam. Mas agora eu cresci, seus imundos. Seus putos! Seus viados! Isso, malditos, venham pro pau. Venham, filhos da puta! Venham, filhos da puta! AAAAhhhhH! Filhos da puta!! Filhos da puta!!!!! Rrrrrrrrrrgghhghg!! AAaaarrrhhh!!! Filhos da puta! Filhos da puta!! Filhos da puutaaa!!!!!
terça-feira, 10 de abril de 2007
Na volta
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