“Um dia meu pai estava indo para casa após um dia de trabalho. Tinha comprado flores para minha mãe e uma motoca de plástico para mim, a qual vinha pedalando sob o pretexto de garantir a segurança do veículo. Não desviava de ninguém na calçada. Pilotava em linha reta, dividindo a população entre os que escolhiam passar à sua direita e portanto mais próximos da rua e dos carros estacionados, e os que iam pelo caminho que beirava muros e lojas de doces e algumas fruteiras – como a do seu Itachi, com quem o pai travou o seguinte diálogo:
- Olá, fruteira do seu Itachi, belo dia, não?
- Sim, sim, meus hortifrutigranjeiros se encontram em um agradável estado de risonhez.
- Ha ha. Mas tu, hein.
- É, é... Até mais, senhor.
- Até amanhã, até amanhã, he he.
Ao chegar na esquina papai não sabia, mas aquela atravessada de rua seria a última, e aquela quadra que faceiro percorria com o rolar de suas rodinhas arroseadas estava desde sempre destinada a marcar a despedida de seu valente e empreendedor organismo bioquímicofisicocelular.
Percorria com o olhar todo o trajeto futuro, atento a possíveis buracos na calçada, quando ouviu alguém atrás de si dizer:
- Não olhe para trás, não olhe para trás.
Papai achou que fosse uma brincadeira de algum de seus muitos amigos e virou, ansioso, já com a costumeira simpatia fraternal colada na face rude e delicada.
- Eu disse pra NÃO virar.
O homem estorou seus miolos. SEUS miolos, sacou?”
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